sábado, 21 de agosto de 2010

Uma visão sobre a Igreja (Ricardo Brunet)


A Igreja que o Senhor Jesus Cristo fundou com seu sangue foi a união de irmãos simples, porém apaixonados, dinâmicos, amáveis e cheios de misericórdia uns para com os outros...
            A manifestação desta igreja é algo explosivo, que é capaz de deixar o mundo, o Brasil, o Rio de Janeiro, a cidade de Mesquita, todos os bairros e famílias na iminência de uma grande manifestação de amor que redundará em milhares de almas bem cuidadas.
            A manifestação de Cristo, como o Cabeça desta igreja, que é o Seu corpo, é a grande ferramenta para cumprir sua ordenança: fazer as nações de discípulos semelhantes a Ele. Discípulos que se entreguem uns pelos outros em amor, de forma que haja conversão a Deus, ao próximo e ao mundo, lembrando que o próximo será sempre a pessoa de quem nos aproximamos.
            Uma igreja isenta de manipulação e controle, que não precisa de fortuna em dinheiro e que dispensa a visão ultrapassada do sistema religioso e seus heróis e estrelas intocáveis.
            Uma igreja, como corpo de Cristo, que tem sua maior expressão em: “(...) amai-vos uns aos outros como Eu vos amei” não apenas trazendo uma mensagem, mas, como evangelho vivo, sendo a própria mensagem transformadora que traz a distinta metamorfose a tudo que entrar em contato com ela, até que toda cidade, estado e nação sejam cheios da glória de Deus manifesta através de seu corpo.
            Uma igreja cuja força, poder e energia fluam de seu criador e gerador, que a inoculou com seu código genético, o DNA espiritual, que via sangue de Cristo transfere valores do espiritual para o material, com o fim de reproduzir muitas vidas semelhantes a Ele aqui na Terra.
            Uma igreja que se assemelha mais com uma grande família com muitos filhos à semelhança de Cristo, do que uma organização fria, insensível, voltada mais para estruturas e eventos do que para as vidas. Uma igreja orgânica, centradas em relacionamentos não formais, que cresce em meio à simplicidade, ao amor, ao serviço uns aos outros, que avança muito além quando mantém seus olhos molhados, através de corações quebrantados e singelos.
            Uma igreja que anda na sociedade debaixo de 40 graus parecida com Jesus... amando uns aos outros... servindo uns aos outros... perdoando uns aos outros... considerando o outro superior a si mesmo... não buscando seus interesse, mas os do próximo... sendo suporte uns dos outros... compartilhando necessidades espirituais e materiais uns com os outros... UMA IGREJA ONDE NÃO HAJA NENHUM NECESSITADO.
            Uma igreja que faça com que os pais se voltem para o coração dos filhos e os filhos aos seus pais, onde os verdadeiros recursos não estão na prata, mas sim nas pessoas e onde apenas um nome se destaca: o CORDEIRO DE DEUS.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

PODEMOS SER CRISTÃOS SEM IGREJA?

Sim, desde que sejamos a própria Igreja. Penso que ser cristão não está
relacionado a nada que seja institucional, e sim ao relacional. Qualquer
tipo de ajuntamento que vise um relacionamento vertical com Deus se
torna desnecessário a partir do momento que Deus se fez homem para viver
em nós: "...que eu esteja neles e tu estejas em mim" (Jesus). Nesse
entendimento, perceberemos que a reuniões ou ajuntamentos que venham a
ocorrer não possuem mais o aspecto de culto e/ou adoração, mas o aspecto
claro de comunhão, onde o bem que um faz ao outro estabelece o
verdadeiro culto e a mais profunda adoração. Nesses encontros pode haver
música, oração, palavra, comida, bate papo, mas sem necessariamente ser
nessa ordem ou ter que acontecer todas essas coisas. Haverão dias de
haver apenas bate-papo e isso não quebra em nada a adoração. Os cultos
que hoje existem chamam a presença de Deus e afirmam que nela está o
prazer das pessoas. Creio que se Deus vive no interior do homem, eu
prefiro chamar a presença de meus irmãos e nelas ter o meu prazer.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

A RIVALIDADE DO ANEL







SALADIN.
Já que é homem tão sábio, diga-me qual lei,
Qual fé lhe parece ser a melhor?
O judaísmo, o cristianismo ou o islamismo?

NATHAN.
Em tempos idos habitou no leste certo homem
Que de valorosa mão recebeu um anel de infinito valor:
Sua pedra, uma opala que emitia sempre cambiante matiz
E tinha, além disso, a virtude secreta de tornar seu possuidor
Agradável a Deus e os homens;
Diante disso e dessa persuasão ele passou a usá-lo.
Não será estranho saber que o homem do oriente não o tenha tirado do dedo jamais,
E tenha tomado providências para que o anel permanecesse entre seus descendentes como herança perpétua.
Dessa forma ele o deixou para o MAIS AMADO dentre os seus filhos,
Ordenando que esse legasse por sua vez o anel
Ao MAIS QUERIDO entre seus próprios filhos
E que, não importando a ordem do nascimento,
O FILHO FAVORITO, pela virtude suficiente do anel,
Permanecesse sempre o senhor da casa.
Está ouvindo, sultão?

SALADIN.
Estou ouvindo, prossiga.

NATHAN.
Passando de um filho a outro,
O anel chegou finalmente a certo pai
Que tinha três filhos, todos igualmente obedientes,
E que ele não tinha como deixar de amar igualmente.
Às vezes parecia ser este, às vezes esse, às vezes aquele –
segundo cada um recebia, a sua vez, as prodigalidades do seu coração – mais digno do anel,
O qual, com bem-intencionada fraqueza, o pai prometeu, em particular, a cada um.
Assim as coisas seguiram por um tempo,
Mas com a proximidade da morte o velho pai viu-se embaraçado.
Desapontar dois filhos que confiavam na sua promessa ele não podia suportar; quê fazer?
Manda chamar secretamente um joalheiro, do qual,
A partir do modelo do anel verdadeiro, encomenda dois outros,
Ordenando que não poupe esforços ou recursos a fim de fazê-los em tudo idênticos,
Inteiramente idênticos, ao verdadeiro.
O artista conseguiu: os anéis foram trazidos e nem mesmo o olhar do pai
Foi capaz de distinguir qual havia sido o modelo.
Cheio de alegria ele chama seus filhos,
Sai com cada um em particular, a cada um concede sua benção e seu anel, e morre. Está ouvindo?

SALADIN.
Estou, estou, termine a história.
Falta muito?

NATHAN.
Já terminou, sultão.
Porque o que segue pode ser adivinhado sem dificuldade.
Mal é morto o pai, cada um aparece com seu anel
Afirmando ser o senhor da casa.
Surgem intriga, discussão, conflito – tudo inútil,
Porque o verdadeiro anel não podia ser mais distinguido entre os outros
Do que, hoje em dia, pode ser discernida entre as outras qual é a verdadeira fé.

SALADIN.
Mas como? Essa é sua resposta à minha pergunta?

NATHAN.
Não, mas serve como meu pedido de desculpas.
Não consigo decidir entre os anéis que o pai mandou expressamente fazer
Para que fossem indistinguíveis um do outro.

SALADIN.
Os anéis – não me venha com brincadeiras!
É evidente que as religiões que nomeei podem ser distinguidas umas das outras
Mesmo em coisas como vestimenta, comida e bebida.

NATHAN.
Mas não o que baste como prova irrefutável.
Não são todas fundamentadas na história, tradicional ou escrita?
A história deve ser recebida na confiança, não é?
Em quem deveríamos confiar?
No nosso próprio povo, por certo, nos homems cujo sangue somos nós neles,
Que desde a infância nos dão provas de amor,
Que nunca nos enganaram, a não ser quando nos era mais benéfico sermos enganados.
Como posso crer menos nos meus antepassados do que você nos seus?
Como posso pedir de você que duvide dos seus antepassados para que os meus recebam o louvor da verdade?
É o mesmo com os cristãos.

SALADIN.
Pelo Deus vivo, o homem está certo.
Devo calar.

NATHAN.
Voltando aos anéis, como eu disse, os filhos reclamaram.
Cada um jurou ao juiz ter recebido seu anel diretamente das mãos do pai, como era de fato o caso,
Depois de ter obtido há muito tempo a promessa do pai de que um dia o anel seria seu, como era também o caso.
O pai, garantiu cada um, não poderia ter agido com falsidade com ele;
Antes de suspeitar de tal pai, por mais que estivesse disposto a julgar com caridade seus irmãos, estaria pronto a acusá-los de traiçoeira falsificação.

SALADIN.
Ah, e o juiz, quero saber o que você vai fazer o juiz dizer.
Vamos, prossiga.

NATHAN.
O juiz disse, Sem chamar o pai diante da minha tribuna
Não tenho como proferir a sentença.
Devo dispor-me a resolver enigmas? Devo esperar que o verdadeiro anel abra os lábios para testemunhar?
Mas esperem – vocês afirmam que o anel verdadeiro
Tem o poder secreto de fazer seu possuidor
Amado por Deus e pelos homens. Seja esse o árbitro.
Qual de vocês, irmãos, ama mais os outros dois?
Não respondem?
Esses anéis geradores de amor agem só internamente, não externamente? Cada um de vocês só é capaz de amar a si mesmo?
Enganadores enganados, é o que vocês são.
Nenhum dos anéis é verdadeiro.
O verdadeiro anel talvez tenha se perdido;
A fim de ocultar ou corrigir a sua perda,
O pai de vocês encomendou três para compensar um.

SALADIN.
Ah, perfeito! Perfeito!

NATHAN.
Então, prosseguiu o juiz,
Se aceitam um conselho ao invés de uma sentença,
Eis meu conselho a vocês: tomem as coisas como são.
Cada um de vocês tem um anel que lhe foi dado pelo pai,
E cada um crê que o seu seja o verdadeiro.
É possível que o pai tenha escolhido não mais tolerar a tirania do anel único.
O que é certo é que, por muito amá-los
E por amá-los da mesma forma,
Não lhe era possível contentar-se em favorecer um para que se tornasse opressor de dois.
Sinta-se cada um honrado por essa livre demonstração de afeto, não distorcida pelo preconceito.
Procure cada um rivalizar com seu irmão na demonstração da virtude do anel;
Ao poder dele acrescentem gentileza, benevolência e longanimidade,
bem como entrega interior à divindade.
Se as virtudes do anel continuarem a serem exibidas entre os filhos de seus filhos
Depois de mil anos, compareçam diante desta tribuna;
Alguém maior do que eu tomará assento nela, e ele decidirá.

O judeu Nathan conversa com o muçulmano Saladin na peça do cristão Ephraim Lessing,
Nathan, o Sábio (1779). Lessing compôs o personagem de Nathan tomando por base
seu amigo judeu Moses Mendelssohn (avô do compositor Félix).

fonte: A bacia das almas

sábado, 20 de fevereiro de 2010

A Ceia Eucarística em São Pedro

Irmã Olinda tinha chegado fazia poucos dias do Brasil para completar seus estudos em Roma e preparar-se para uma das missões da Congregação. Na tarde da Quinta Feira Santa, a superiora perguntou à Irmã Teresa se poderia acompanhar a jovem brasileira em São Pedro, onde tinham conseguido dois ingressos para a Missa do Lava-pés.

A basílica resplandecia de luzes e a irmãzinha estava deslumbrada com tantas maravilhas. O lugar reservado a elas permitia uma magnífica visão do conjunto. O papa presidia, rodeado de cardeais, arcebispos, bispos e uma multidão de sacerdotes, tudo num oceano de cores e de sons que a deixavam assombrada. Lembrou o carnaval do Rio que a televisão levava fielmente, todos os anos, até o coração da mata amazônica onde tinha nascido. Envergonhou-se logo desse pensamento desrespeitoso e procurou concentrar-se no solene rito que se desenvolvia debaixo de seus olhos. Nos primeiros bancos e nos lugares a eles reservados, os membros do Corpo Diplomático e da nobreza romana ostentavam seus trajes de cerimônia, austeros os dos homens, elegantíssimos os das mulheres.

Em suas cabines, discretos, mas em plena atividade, os operadores de TV captavam e enviavam para o mundo as imagens que ela observava com seus próprios olhos.

Procurou acompanhar a homilia do papa, mas não conseguiu por muito tempo: conhecia já bastante a língua italiana, mas a pregação lhe resultava difícil.

Lembrou a última Semana Santa passada em sua comunidade, antes de entrar no noviciado. Tinha apenas vinte anos, mas era a líder incontestada do Cabresto, uma comunidade rural distante uns 30 km da sede do município. Não tinha nascido ali, mas ali tinha crescido desde menina. Tinha freqüentado a pobre escola do lugar, com uma única professora que ensinava o pouco que sabia a todos os garotos e garotas dos 6 aos 12 anos. Tinha-se distinguido tanto que, quando a velha professora se mudou para a cidade, com a família, os pais do Cabresto tinham pedido ao prefeito que colocasse ela no lugar. Seu nome de batismo era Olinda, mas todos a tinham sempre chamado Lindinha e também quando se tornou professora, pais e crianças continuaram tratando-a de Lindinha.

Nesse tempo o vigário veio celebrar a Missa no Cabresto. O fazia todos os meses, quando podia. Quis saber se alguém poderia cuidar do catecismo. Todos concordaram que ninguém poderia fazê-lo melhor que ela. Muito jovem, franzina, com um sorriso tímido e a voz doce, era respeitada naturalmente por todos. Participava na paróquia dos cursos de catequese e de formação das lideranças, gostava de ler e procurava manter-se informada o tanto que o isolamento da floresta lhe permitia.

O único que não a suportava era o Dr. Vitalino, dono de uma grande fazenda no Cabresto. Algum tempo atrás uma longa estiagem tinha prejudicado a colheita dos lavradores: o café andou perdido, o cacau sucumbiu pelas pragas e a mandioca saiu raquítica. O Dr. Vitalino quis aproveitar o momento favorável para adquirir a preço de banana as terras dos pequenos proprietários, para aumentar a sua propriedade. Mas Lindinha não tinha freqüentado à toa os cursos de lideranças na paróquia. Visitou uma a uma as famílias da redondeza, reuniu noites seguidas a comunidade. Conseguiu convencer o pessoal a resistir... Quem ia para a cidade fazia as compras para os vizinhos, aprenderam a comprar no atacado, foram vender seus produtos na capital, para conseguir preços melhores... Em suma, Lindinha tinha feito descobrir a seu povo as vantagens da união e da organização. Ninguém cedeu diante das ofertas do Dr. Vitalino que jogou a culpa na jovem professora. Nunca mais a perdoou.

Mas essas eram coisas do passado. Agora precisava preparar a Semana Santa. E o fez com sua costumeira competência, ajudada pelos alunos e as moças da comunidade.

Tinham esperado que o pároco fosse celebrar a Missa da Quinta Feira Santa, mas a chuva tinha interrompido a estrada.

Ao entardecer, tudo estava pronto na branca capelinha no meio do mato. Os jovens e os garotos, vindos no começo da tarde, já andavam por ali, após terem tomado banho e vestido suas roupas de festa no riacho próximo. Foram chegando os adultos com as crianças pequenas. Apareceu também a família Sarges. Pertencia à Assembléia de Deus, mas quando seu pastor não vinha, participava com gosto nas celebrações da “professora Lindinha”.

O filho da viúva Raquel trouxe uma bandeja com os doces preparados pela mãe, que, porém, não viria porque sua muleta tinha quebrado. Mas Lindinha não se conformou. Chamou um dos jovens:

- Tavico, junta três ou quatro colegas e tragam aqui a senhora Raquel que não pode caminhar.

Pouco tempo depois o grupo fazia a sua solene entrada na capela: quatro jovens seguravam uma robusta vara na qual estava amarrada a rede que trazia a senhora Raquel, radiante.

Agora estavam todos. Isto é, quase todos. O Dr. Vitalino e sua família tinham viajado no sábado para ir passar a Semana Santa em Salinas, a praia da gente fina da capital.

A celebração saiu bonita mesmo. A Lindinha (quero dizer, Irmã Olinda) sente a saudade apertar sua garganta lembrando aquela noite.

Nonato tinha sido particularmente bem sucedido comentando o Evangelho da instituição da Eucaristia, recordando a luta de dois anos antes e tinha-se emocionado relembrando gestos de solidariedade que, a partir de então, transformara o Cabresto numa verdadeira comunidade.

No lava-pés as crianças tinham lavado os pés dos pais, que receberam a homenagem com a maior seriedade. Durante o ofertório foi fita a coleta, cuja arrecadação seria destinada ao Sr. Feitosa, que estava em Belém, ao lado da mulher recém operada.

Terminado o culto, os objetos litúrgicos e as toalhas foram guardados no armário e o altar voltou a ser a mesa sobre a qual as mães foram colocando – não sem uma pontinha de orgulho – sua respectiva “janta”.

- “Comeremos todos juntos o que cada uma tiver trazido” era o lema de suas refeições comunitárias.

A novidade daquela noite foi o conteúdo da bandeja da senhora Anália, matriarca da família Neves, recém chegada no Cabresto, de Minas Gerais. Poucos dos presentes conheciam o pão de queijo mineiro, mas a novidade teve sucesso total.

Aí o velho Neves contou como a Semana Santa é celebrada na sua terra. Mais tarde as gêmeas da família Sívori, descendentes de italianos e procedentes do Rio Grande do Sul, cantaram uma canção que os jovens de lá usam enquanto passam, em grupos, de casa em casa para recolher ovos que, devidamente pintados e cozidos, serão comidos após a celebração da noite de Sábado Santo.

A única nota triste foi provocada por ela, Lindinha.

- Como vocês sabem, esta é a última Semana Santa que passo com vocês. No próximo mês deixarei o Cabresto para entrar na casa de formação das Missionárias de Maria.

- Porque vás embora? Es tão preciosa aqui! Ou nós não somos filhos de Deus?

- São, sim, senhor Sívori. Veja, acabamos de celebrar a Última Ceia. Nos dissemos que não podemos pensar só em nós. Eu gostaria que também outras pessoas pudessem conhecer as coisas bonitas que o Senhor fez e faz para seus filhos e filhas. Vocês já o sabem.

- E a senhora, Dona Dora, vai deixar sua filha ir embora?

- Senhor Sívori, suas crianças são ainda pequenas. Mas logo vão crescer e o senhor entenderá que os filhos nós os fazemos, com a graça de Deus, mas não são nossos...

Irmã Olinda sente uma forte saudade daqueles momentos tão intensos. Mas a Irmã Teresa a sacode. Chegou o momento da comunhão.

Enquanto avança lentamente na fila, sente-se culpada pela longa distração. Quando chega a sua vez, estende a mão para receber a hóstia, mas o padre, com gesto mecânico, enfia a partícula em sua boca.

De volta ao seu lugar, a emoção das lembranças se transforma num choro suave e melancólico, que procura esconder cobrindo o rosto com as mãos.

Chegam em casa já tarde. As Irmãs que participaram da Missa na paróquia já estão dormindo. Também a Irmã Olinda se retira no seu quarto. Antes de adormecer, ouve a superiora que pergunta à Ir. Teresa:

- E então, nossa brasileirinha gostou da cerimônia?

- Acho que sim. Quando saímos de São Pedro tinha os olhos vermelhos...

- Pode apostar! Lá, no meio do mato uma cerimônia como esta, ela não ia poder nem sonhar.


Sávio Corinaldesi

domingo, 10 de janeiro de 2010

COMO NASCE UM PARADIGMA:


Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula, em cujo centro puseram uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas. Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jato de água fria nos que estavam no chão. Depois de certo tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros enchiam-no de pancadas. Passado mais algum tempo, nenhum macaco subia mais a escada, apesar da tentação das bananas.
Então, os cientistas substituíram um dos cinco macacos. A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, dela sendo rapidamente retirado pelos outros, que o surraram. Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo não mais subia a escada. Um segundo foi substituído, e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto participado, com entusiasmo, da surra ao novato. Um terceiro foi trocado, e repetiu-se o fato. Um quarto e, finalmente, o último dos veteranos foi substituído. Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco macacos que, mesmo nuncatendo tomado um banho frio, continuavam batendo naquele que tentasse chegar às bananas.
Se fosse possível perguntar a algum deles porque batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria: "Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui..."

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

O Dia do Senhor




 O Dia do Senhor


Imagine um dia de domingo em todo o mundo
De repente as portas dos santuários se abrem
Multidões a transpõem, em sentido contrário, fecundo
Ruas e vielas descobertas tandem

Hospitais, hospícios, presídios e abrigos
Se tornam o alvo dessa procissão
Os homens e não as coisas, a semente de trigo
Morrendo para renascer, sair da desilusão

E em todos esses lugares de dor
Estão verdadeiros santuários perdidos
Edificados pelo próprio Criador
Ainda longe de serem remidos

Mas nesse domingo outra é a história
As mão se erguem para ajudar a massa
Aos feridos de alma, a presença da glória
Aos necessitados se manifesta a graça

Santuários de pedra se desfazem
E pedras vivas edificam ao Criador
O amor que a cada uma das vidas trazem
No verdadeiro Dia do Senhor.

domingo, 1 de novembro de 2009